sábado, 16 de junho de 2007

No entanto, que espiritual você me dar uma rosa

-Oi. Posso sentar?
-À vontade.
-O que você tem?
-Como assim?
-Eu vejo que você não tá bem.
-Amarguei. Acontece.
-Oi?
-Amarguei.
-Triste?
-É... Amarguei. Já disse.
-Qual o seu signo?
-Áries com ascendente em virgem e lua em sagitário.
-Você já pensou em cuidar dos seus chacras?
-Hmmmmmmm... Não?
-Eu sou radiestesista.
-Legal. Eu sou amarga.
-Cuide dos seus chacras.
-Pode deixar.

Você sai depois de passar por uma semana trabalho-casa-trabalho. Até pensa em apelar para o disque-vida, mas o orgulho persiste. Você passa a noite criticando as pessoas que gastam 30 reais para ouvir uma banda tocando Chico Buarque, porque sabe que não são todos que têm 30 reais para gastar com uma banda que toca Chico Buarque. Você vê meninas de cor-de-rosa e plataforma. Vê pessoas tentando burlar as regras para não passar pela fila. Vê garotos vestidos de forma básica. Garotos que têm medo de errar. Você se dispõe a fingir que a vida é uma grande festa, mas prefere acreditar que não foi convidada. Você dá uma de recatada-sorridente e resolve se sentar em um cantinho seguro. Chega, então, um sujeito qualquer que decide salvar sua vida. Não, obrigada. Mas ele insiste. E se propõe - o mundo é dos altruístas! - a demonstrar que as coisas podem ser menos doídas. Você - o mundo é dos resignados! - deixa que ele fale. Afinal, deve haver algum palco invisível, e os holofotes só acendem quando há um público disposto a crer que existe um artista. Mas você sabe que amargou. Sua amiga também sabe. E é bem provável que, a essa altura, os vizinhos dela já tenham comentado algo a respeito. Que tal? Então é melhor que dancemos. Assim. Como se fosse a primavera.
Mas murchei. E não sou tanto.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

A mesma praça...

Hoje desenhei um reloginho em meu pulso direito. Reloginho de caneta Bic. Mas não adiantou. O amor não veio, a vida parece ter estacionado em algum lugar nem-um-pouco-turístico, e voltei a me sentir velha. Do tipo que, para liberar as energias, precisa criar as mais absurdas confusões. Cansei. Sem perceber, cansei.

domingo, 10 de junho de 2007

Se eu tivesse uma pistola...

Mulheres de voz aguda não deveriam beber. Não, não deveriam. Fui abençoada por Deus, já que a surdez parece ter vindo pra ficar, mas aquele timbre "iiiiiiiiiiihhh" me tira do sério. Ainda.
E a "galera" que se une pra comemorar o sábado, então? Me chuta, vai. Com força dessa vez. Porque agüentar gente bêbada berrando e sendo simpática, a essa altura da TPM, não dá. Eu sou gente bêbada e sei o que estou dizendo. Somos chatos, enchemos o saco alheio, passamos mal e dizemos absurdos. Gente... Não dá.
Mas o dia 12 está aí, e minha porção romântica avisa que há uma sementinha anticasal crescendo em meu peito. Triste, né? Se eu parar de ler as bulas a partir das Reações Adversas, passar a beber moderadamente e deixar de me enxergar como a tia velha que amargou de vez, é bem capaz que o sol volte a brilhar aqui dentro. Por enquanto, porém, peço a todos que me errem.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Eulália, prazer!

A gente passa tanto tempo fora de casa, que se esquece das "particularidades" pertencentes à rotina de um lar, sabe? Uma delas, por exemplo, é meu nome. E o problema dele é somente um: ele é fácil. Meu pai se chama Cláudio e teve mais sorte. Juliana vira Ju, e isso facilita - um bocado - a vida daqueles que querem pedir coisas. "Ju, vem ver isso", "Ju, pega lá aquele negócio", "Ju, cadê você?". Puta que pariu dez vezes. Faça o seguinte: tire o Ju da boca e enfie onde a rima soar melhor.

Saúde!

Sábado

Você passa duas horas seguidas na mesma posição, sem conseguir se mexer. Acha estranho, mas deixa pra lá. Você é uma criatura forte, orgulhosa e blablablá. Seus pais estão longe, seus amigos estão no bar, e você decide, então, se arrastar até o quarto. Pega cinco edredons, toma 20 remedinhos sortidos...

Domingo

...e acorda às 7h da manhã suando e tremendo. Seus pais chegam, descobrem que você está com febre e dizem que vai passar. Deitada, você percebe que está assistindo ao programa da Eliana. O controle remoto está a dois palmos, mas não há como alcançá-lo. Afinal, você não se move. A Eliana fala, fala, fala. O Xanddy fala também. E você agradece a Deus, já que eles poderiam estar cantando. O nariz não funciona e você cria uma minijacuzzi no travesseiro. Sua mãe entra no seu quarto dançando, de pijama e pantufas. Você acha que está tendo uma alucinação qualquer, vira o rosto - que gruda no tecido - e tenta dormir. Sua mãe entra novamente no seu quarto, dança mais um pouquinho e diz que está com depressão. Você xinga, expulsa aquele ser humano desfocado e se arrepende. Resmunga, toma mais alguns remedinhos sortidos e se odeia por notar que está se transformando em uma pessoa intolerante.

Segunda

Você liga para a sua chefe, diz "Bom Motivo" em vez de "Bom Retiro", solta uma gíria vergonhosa e é liberada do trabalho. Você, mesmo se sentindo culpada, dorme. E sonha com as revisões que deveria ter feito. Seu pai a acorda depois de algumas tentativas. Então você toma um Trimedal, descansa (...) mais algumas horinhas (...) e acorda renovada.
Resultado: a humanidade não presta, você não presta, mas o Trimedal... esse é parceiro.

(mais uma vez: não busquem, aqui, nada que vocês poderiam encontrar em outro lugar. A cultura não veio, a educação nunca deu as caras, e a vida segue seu rumo da mesma maneira)