segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Noja

Eu encabeço a seletíssima OPAM. Somos seres dotados de higiene, noção e respeito, e, por conta desses pequenos detalhes, sentimos nojo de metrô. OPAM, portanto, é a Organização das Pessoas com Asco de Metrô. Principalmente dos ferros...
Basta olhar com um pouquinho de cuidado para notar a presença de digitais ensebadas, restos de frango, ranho de criança e congêneres.
E não ousem imaginar que sou da laia de lá, não. Pois tampouco me enquadro na turma das moçoilas que possuem mais frescuras do que opiniões.
O problema é que, há cerca de um ano, passeando pela mágica linha Palmeiras/ Barra Funda – Corinthians/ Itaquera, fui vítima de um pingo de suor alheio.
Uma gotinha de água salgada que, até hoje, faz meu estômago tremer.

Sem mais

“Deixa você passar dos trinta, trinta e cinco, ir chegando nos quarenta e não casar e nem ter esses monstros que eles chamam de filhos, casa própria nem porra nenhuma. Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha”.
(Caio Fernando Abreu, “Dama da Noite”)

Do lar, mas nem tanto

Moça prendada sabe desfiar frango, cortar pimentões e maçãs em cubinhos, fazer a cama e pendurar cabides de toalhas.
Moça prendada sabe isso e muito mais.
Mas não sou prendada. Nem tão moça assim...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Assunto?

Aos 20 anos, eu namorava um moçoilo chamado Tiago. Mas, como sou muito inventiva e simpática, costumava apelidá-lo de Tiaga. E quando se comportava muito, mas muito bem, ele era promovido para Tiágara Falls. Sim, sempre fui adepta de novas denominações. Não, ele não ficava feliz com isso.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

"Mudou-se de casa e usou regata"

Este será o título do meu filme. Uma releitura vigorosa, corajosa e moderna do acla-ma-dís-si-mo “Matou a família e foi ao cinema”. Bonito à beça, não? Também acho, amiguinhos, também acho. Mas sei que, conforme venho tagarelando há quase um ano, os 30 estão logo aí. E não há nada como tomar uma altíssima dose de vergonha na fuça. Por conta disso, saí do lar, doce lar há quase uma semana. Sim, senhores! Eu sou o orgulho da mulher brasileira. E tem mais: apesar de odiar meus braços – afinal, todos têm o direito de odiar aquilo que bem entendem –, fui obrigada, por este calor infernal, a abandonar os casaquinhos. É óbvio que, se pudesse, optaria pelo múmia-style. Mas a sociedade, preconceituosa que é, jamais aceitaria algo tão arrojado.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Mas tudo continua quente

“(...) e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado.”
(Caio Fernando Abreu, “Os Sapatinhos Vermelhos”)

Sentimentos são grandes arapucas que não nos levam a nada-lugar-nenhum. Bom mesmo é bater no peito e seguir em frente. Machice. Pau. Nada de ser o que sou só porque assim me sinto bem. Só porque um dia li que a poeta se despedaçava e se sentia íntegra e serena. Cansei de me despedaçar. Cansei de juntar caquinhos. Cansei de acreditar desacreditando. Mas é tudo mentira. Juntar caquinhos é a minha especialidade. E o trabalho envolve tanta precisão que, após pouquíssimo tempo, nem parece que algo foi quebrado. Talvez olhando muito de perto as pessoas encontrem uma porção de rachaduras. Mas pouco importa. Afinal, quem se aproxima está (ou deveria estar) disposto a enxergar os detalhes.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Entendi tudo

Plural dá azar. Só pode ser isso!

Escrotidão além do alcance

E ontem, num momento pós-réveillon, reencontrei o Rei dos Babacas. Não sei como vocês lidam com pessoas do passado, mas meu mundo só suporta duas alternativas:

1. Se a pessoa foi legal, ensinou, aprendeu, trocou etc., eu simplesmente procuro mantê-la limpa em meu peito, mesmo que para isso tenha de fazer cara de paisagem e matar todos os fatos desagradáveis. É difícil, mas ainda prefiro acreditar que vale a pena;

2. Se o ser em questão abusou da minha paciência, da minha boa-fé, da minha delicadeza, destruindo minha auto-estima, ainda sou partidária do bom e velho "até mais ver". Ou seja, não há como manter qualquer espécie de laço com alguém que tem o único e claro objetivo de me fazer mal. Não, não há.

E com o Rei dos Babacas, meus amiguinhos, tive de optar pela segunda alternativa. Afinal, era a minha integridade que estava em jogo. E, por mais que eu não acredite em conceitos que tenham algo em comum com o "mostre-se digna" e o "valorize-se", sou obrigada a dar um basta às vezes. Nada mais racional, certo? Hoje, porém, recebi um e-mail cujo assunto era "Requisição de favor".
Reparem na ironia da mensagem:

"Aproveito a oportunidade para desejar a você, bem como a seus familiares, amigos e sacerdotes, um Feliz Natal e um Próximo Ano Novo.
Mas o que aqui especialmente venho fazer, no entanto, é expressar o ardente desejo de lhe pedir um favor. Qual seja, que na próxima vez em que porventura nos encontremos, você reaja com um pouco menos de efusividade e calor humano no trato com a minha pessoa. Ocorre que em todas as duas ocasiões em que nos vimos nos últimos, sei lá, três anos, o seu excesso de simpatia para comigo acabou por me sufocar um pouco, sabe? E você sabe, eu prezo a liberdade, essa coisa meio cabelos ao vento, manja?
E então, posso contar com a sua cooperação?
Um beijo."

Posso até admitir que realmente não fui nem um pouco simpática com o indivíduo nos tais reencontros. Também admito que, se pudesse, gostaria bas-tan-tão de não tornar a vê-lo. Mas a vida prega peças, a sorte dá rasteiras, e São Paulo não passa de um grande quintal. Sendo assim, por que cargas d'água ele espera que eu mude minha forma de (des)tratá-lo? Ora, se ele se esqueceu de tudo o que fez para mim, não posso fazer absolutamente nada. Não tenho o menor ímpeto de refrescar sua memória, mas também confesso que não me sinto suficientemente santa para simplesmente passar uma borracha no assunto e agir como se nada tivesse acontecido. E lamento muito caso alguém tenha, aqui, a infeliz impressão de estar lendo o texto de uma pessoa recalcada que expõe, sem piedade, a fragilidade de outra. Não. Não mesmo. O Rei dos Babacas só recebeu este título porque - acreditem ou não - me expôs muito mais.