segunda-feira, 28 de maio de 2007

Eu te amo, Banespa

Sabe quando você tem todos os motivos do mundo pra acreditar que a sua segunda-feira será péssima? Pois eu estava me sentido assim. Porém, não mais que de repente, pensei: poxa, talvez seja o caso de dar um alô pro pessoal da Superlinha do Banespa, né? Afinal, aquele povo simpático, rápido e atencioso sempre me anima!
E foi o que fiz.
Papo vai, papo vem, e surgiu o assunto. Pra ser sincera, eu nem teria tocado nele, já que a conversa estava tão agradável...
Como o meu querido banco, no entanto, fez questão de bloquear meu cartão para, em seguida, enviar um telegrama supergracinha explicando que havia errado - errar é humano, né, moçadinha??? -, topei me abrir. Expliquei que não sinto falta de almoçar, comprar remédios etc. E quem sente? Gente fútil, oras. Pois não há nada mais bonito e libertador que viver de vento. E não há estômago que um pouco de planta, terra e pedra não consigam preencher. Assim como não há mal algum em passar um tempo sem ter de lidar com aquela papagaiada precisa e impessoal de senha, débito e afins. Gostoso mesmo é sacar um cheque, assinar, treinar a caligrafia e sentir aquele friozinho na barriga, imaginando que rumo a folha poderá tomar. Adoro!
Não é porque estou há uma semana sem cartão que vou sair do sério. Não é porque o banco me dá o prazer de conversar com 465 pessoas diferentes que vou me exaltar. Graças ao bom Deus, aprendi a aproveitar as pequenas delícias do dia-a-dia. E, pra ser sincera, quando todas aquelas vozes começam a dizer a mesmíssima coisa, sinto um lance muito bom. Relaxante. Praticamente um mantra. Desculpe, senhora. Desculpe, senhora. Desculpe, senhora...
Viram? Às vezes até me seguro, pois sou medrosa e não sei se o mundo está pronto pra me ver levitando por aí. E o nirvana, então? Tudo menos o nirvana!
Entendo essa postura bonita adotada pelo Banespa, admiro a atitude zen de seus funcionários, mas ainda não me sinto apta, de fato, a desfrutar de tantos benefícios.
Fica aqui, então, minha mais profunda gratidão.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Cu e medo: uma relação de afeto

Eu sou a mulher de 30. Eu sou quase aquela que se redime de seus defeitos e segue em frente. Já fui Lolita e Poliana Moça. Já fui várias. E só não fui Christiane F. porque recusei o papel (e olha que não foram poucas as vezes em que bateram à minha porta e imploraram para que eu revivesse a personagem). Na verdade, estou nos 29. Mas convenhamos: isso é burocracia, coisa de repartição. Pois tenho 30 desde os 25. E todos sabemos.
O que dói, no entanto, é a imagem que serei obrigada a espelhar. Nunca fui de idolatrar ninguém - mesmo que prefira manter o Fidel Castro completamente alheio às discussões de bar. Nunca. Até a semana passada. Até baixar a guarda e entrar na onda daqueles que não vivem sem Lost. Sim, é uma série. E - pior! - é norte-americana. Mas o mundo está escasso. E qualidade se transformou em artigo de luxo.
Passei tanto tempo aceitando historinhas previsíveis, diálogos imbecis e personagens planos, que fui obrigada a idolatrar aqueles roteiristas filhos-de-uma-puta.
Sou, portanto, medo puro. A mulher de 30 que idolatra Lost. A que passou a ser vegetariana por se sentir culpada. O que resta, meu bom Deus? Medo, medo e medo. E a única coisa que vem à mente é a possibilidade de um dia chegar ao absurdo de manter relações com nerds aficionados por Star Wars.

sábado, 12 de maio de 2007

Antivida

Vou lá assistir à terceira temporada de Lost e já volto. Pois é. Mais uma refém dessa merda. E refém das boas, eu diria. Afinal, ninguém passaria quatro dias da semana vendo as duas primeiras temporadas sem dormir e sem sair. Mas o Sayid me espera. Assim como o Sawyer, o Desmond, o Eko... E, para não ser acusada de misógina, a Danielle, a Kate e a Alex. Sem contar o urso polar, o cavalo preto, a praia, a selva, a caverna, as escotilhas etc.
Resultado: olhos esbugalhados e pansexualismo a rodo.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Da série "mulherices que não importam"

É, moçada, algumas coisas realmente não mudam. Eu, por exemplo. Pois sou a prova viva de que vai ano, vem ano, e ainda persiste aquela capacidade adolescente de criar listinhas imbecis sobre assuntos que, com um pouquinho de bom senso, seriam mantidos no mais completo (e fino) sigilo. Enfim...
Acontece que, como estou de férias, tenho o direito de matar meus dias da maneira que bem entender. E posso repensar a lista de homens para os quais até lavaria cuecas. Tanto posso, que repensei. E em primeiríssimo lugar está o David Coverdale. Sim, a tia-avó do rock. Aquela que daqui a alguns anos tomará chazinho das cinco na sala do Alice Cooper enquanto ambas tricotam meias de inverno. Ela mesma.
Ok, o David Coverdale está velho. Ok, ele tem uma filha da minha idade (o que, por si só, já é bastante comprometedor). Ok, sua pele está maracujando. Mas foda-se. Ele continua bom. Sem contar o vozeirão e todo aquele aparato brega-trash que tanto agrada aos olhos e aos corações de mulheres que nunca tiveram muito compromisso com a máxima de que "homem que é homem tem que ser homem". Ah, vá. Ele é uma tia-avó deliciosa.
Então é isso. Combinado. Lavo cuecas com gosto, e ainda corro o risco de ganhar meias.

domingo, 6 de maio de 2007

Impressões sobre a Virada Cultural

Sim, a idéia é necessária. E os artistas foram, em sua maioria, muito bem escolhidos. Parabéns pela iniciativa, São Paulo!
Porém, como sou a feliz proprietária de um egoísmo de primeira grandeza, sinto-me obrigada a narrar as minhas impressões:

1. Organização burra, já que as pessoas ficaram concentradas entre o Vale do Anhangabaú e a Praça da Sé.
2. O Tim Maia teria deixado o palco. Eco, eco, eco. Cadê a qualidade do som, meu bom Deus?
3. Vocês se lembram de quando São Paulo era segura e bem-freqüentada? Pois eu não. Nasci depois, e tenho certeza de que vocês também. Então, que tal deixar as crianças com os avós, os amigos, os vizinhos, os desconhecidos...?
4. Oi? Limpeza?
5. A campanha "Desodorante, nem Pensar" realmente é um sucesso. Todos aderiram!

Mas adorei, viu? Supimpa. Só não publicarei as fotos porque, além de terem roubado os remédios (m-e-d-o) da minha amiga, também levaram meu celular.

Algumas coisas não mudam

Momento Lair Ribeiro verborrágico? Talvez. Mas acontece que a vida não oferece aquilo que esperamos. Nunca. Ela tem seus próprios desvãos... E consideramos "normal" abdicar de certos prazeres pelo bem de outros. E consideramos "normal" desconstruir alguns sonhos só porque não fomos capazes de alcançá-los em tempo recorde. E consideramos "normal" que outras pessoas ditem regras - sejamos francos - estúpidas pelo simples fato de não se aceitarem. Sim, essas coisas acontecem. E tormam-se até mesmo corrriqueiras quando optamos por uma vida menos casa-trabalho-casa. Dar a cara a tapa nem sempre significa obter sucesso. E não sou melhor ou pior por ter encontrado, na transparência, minha forma de sobreviver. Mas sou pior por não ter feito dessa transparência algo real, visto que a mulher apresentada nem sempre é a que está aqui, escrevendo tudo isso.
Ainda não suporto notar que certas pessoas ditam normas quando não conseguem sustentá-las (mesmo que durante pouquíssimos segundos), mas cresci. Envelheci. E o mal-estar que eu experimentava a cada decepção sumiu.
Entenda: tenho pensado muito, e em muitas coisas. Pensado de tudo, imaginado o impossível. Mas aquela coisa que faz acreditar, parar, olhar para o céu e agradecer... Aquela eu não vejo. Não vejo mais. Tudo o que consigo enxergar é um azul. Enorme azul. E é nisso que penso sempre que me sento naquele banco para fumar às 10 da manhã. E não consigo parar de pensar. Não adianta. "E se, e se, e se..." Sempre assim. Imagino famílias inteiras de "e se": mamãe, papai, filhinhos. Todos caminhando em bando, como animais. Mas fico ali, sozinha. Pensando.

Porque o "começar" é sempre mais bonito

"Ao outro, a Borges, é que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, na contemplação do arco de um saguão e da cancela; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num trio de professores ou num dicionário biográfico. Agra­dam-me os relógios de areia, os mapas, a tipografia do século XVIII, as etimologias, o sabor do café e a prosa de Stevenson; o outro comunga dessas preferências, mas de um modo vaidoso que as converte em atribu­tos de um actor. Seria exagerado afirmar que a nossa relação é hostil; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa urdir a sua literatura, e essa literatura justifica-me. Não me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o bom já não seja de alguém, nem sequer do outro, mas da linguagem ou da tradição. Quanto ao mais, estou destinado a perder-me definitivamen­te, e só algum instante de mim poderá sobreviver no outro. Pouco a pouco vou-lhe cedendo tudo, ainda que me conste o seu perverso hábito de falsificar e magnificar. Espinosa entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra eternamente quer ser pedra, e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros do que em muitos outros ou no laborioso toque de uma viola. Há anos tratei de me livrar dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos agora são de Borges e terei de imaginar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e tudo perco, tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página. " ("Borges e Eu", de Jorge Luis Borges)