domingo, 16 de setembro de 2007

Desistir

"Minha verdade espantada é que eu sempre estive só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade de solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória intíma que na solidão pode se tornar dor. E a dor silêncio. Guardo o seu nome em silêncio. Preciso de segredos para viver." (Clarice Lispector, "Água Viva")
Nome guardado em (ou no?) silêncio. Segredos para viver. Porque, quando o medo vence e você estraga tudo, esse passa ser o único caminho digno. E eu, que nunca fui fã da dignidade, ofereço a minha agora. Toma, fica com ela. Nunca precisei disso. Sou adepta - pela milésima vez - da vertente dos que não enxergam nada de bom na dignidade. Ela nunca encheu barriga, nunca soube amar. Se ofereço a minha e passo a utilizá-la com você, só o faço por respeito. Por saber que, infelizmente, é isso o que você espera de mim. Minha triste, solitária e respeitosa dignidade.
Nunca me importei com os outros, e vivi nesse paradoxo todos os meus erros. Sempre cometi os mais grotescos erros partindo disso. Para mim, os outros não tinham nada a ver com eles. Mas, na minhã seguinte, era neles que eu pensava. Nos outros, e não nos erros. Não posso entregar esse texto, não posso querer partilhar isso. Mais uma vez, minha triste, solitária e respeitosa dignidade que engloba desde o "não seja infantil" até o "saiba o momento de parar". Parece brincadeira. Piada sem graça, mesmo. Sempre agi como uma criança impulsiva. E largar isso é pisar num terreno novo. Muito novo. Já optei. Já desisti. Ofereço minha dignidade, e deixo a beleza daquilo que eu poderia ser (sim, eu vejo beleza naquilo) para a lembrança de tudo que não pude demonstrar. Mas vou parar por aqui. Não quero acreditar que a discrição seja a melhor coisa que uma mulher pode apresentar. Lutei muito pelo oposto. Levantei todas as bandeiras. E continuei sozinha. Eu, minhas dores, minha certeza de estar optando pelo certo. Sempre acreditei que "ser mulher" deveria ser algo muito mais profundo do que a mera discrição. Sempre pequei pelo excesso. E nada.
Pois bem, pela primeira vez eu prometo parar. Já parei e desisti muitas vezes. Mas sempre sabia, lá no fundo, que não havia mais sentimento em mim. Desisti por saber que o copo estava vazio, e que eu ainda sentia sede. Eu e meus clichês. Agora, não. Desisto sabendo que as coisas poderiam ser diferentes. Desisto gostando, se é que se pode dar esse nome às coisas que sinto. Sem mensagens no celular, sem e-mails impertinentes, sem grandes gestos impensados. Fim. Dignidade não procurada. E dói demais ser digna. Mas esta é a minha promessa. Por respeito a você. Não a mim.

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