E ontem, num momento pós-réveillon, reencontrei o Rei dos Babacas. Não sei como vocês lidam com pessoas do passado, mas meu mundo só suporta duas alternativas:
1. Se a pessoa foi legal, ensinou, aprendeu, trocou etc., eu simplesmente procuro mantê-la limpa em meu peito, mesmo que para isso tenha de fazer cara de paisagem e matar todos os fatos desagradáveis. É difícil, mas ainda prefiro acreditar que vale a pena;
2. Se o ser em questão abusou da minha paciência, da minha boa-fé, da minha delicadeza, destruindo minha auto-estima, ainda sou partidária do bom e velho "até mais ver". Ou seja, não há como manter qualquer espécie de laço com alguém que tem o único e claro objetivo de me fazer mal. Não, não há.
E com o Rei dos Babacas, meus amiguinhos, tive de optar pela segunda alternativa. Afinal, era a minha integridade que estava em jogo. E, por mais que eu não acredite em conceitos que tenham algo em comum com o "mostre-se digna" e o "valorize-se", sou obrigada a dar um basta às vezes. Nada mais racional, certo? Hoje, porém, recebi um e-mail cujo assunto era "Requisição de favor".
Reparem na ironia da mensagem:
"Aproveito a oportunidade para desejar a você, bem como a seus familiares, amigos e sacerdotes, um Feliz Natal e um Próximo Ano Novo.
Mas o que aqui especialmente venho fazer, no entanto, é expressar o ardente desejo de lhe pedir um favor. Qual seja, que na próxima vez em que porventura nos encontremos, você reaja com um pouco menos de efusividade e calor humano no trato com a minha pessoa. Ocorre que em todas as duas ocasiões em que nos vimos nos últimos, sei lá, três anos, o seu excesso de simpatia para comigo acabou por me sufocar um pouco, sabe? E você sabe, eu prezo a liberdade, essa coisa meio cabelos ao vento, manja?
E então, posso contar com a sua cooperação?
Um beijo."
Posso até admitir que realmente não fui nem um pouco simpática com o indivíduo nos tais reencontros. Também admito que, se pudesse, gostaria bas-tan-tão de não tornar a vê-lo. Mas a vida prega peças, a sorte dá rasteiras, e São Paulo não passa de um grande quintal. Sendo assim, por que cargas d'água ele espera que eu mude minha forma de (des)tratá-lo? Ora, se ele se esqueceu de tudo o que fez para mim, não posso fazer absolutamente nada. Não tenho o menor ímpeto de refrescar sua memória, mas também confesso que não me sinto suficientemente santa para simplesmente passar uma borracha no assunto e agir como se nada tivesse acontecido. E lamento muito caso alguém tenha, aqui, a infeliz impressão de estar lendo o texto de uma pessoa recalcada que expõe, sem piedade, a fragilidade de outra. Não. Não mesmo. O Rei dos Babacas só recebeu este título porque - acreditem ou não - me expôs muito mais.